quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Carta à Brasília

Cara Brasília,

Precisamos discutir a relação.

Faz tempo que eu queria te dizer isso; nunca achei que você realmente iria me entender. Talvez você seja racional demais, 'certinha' demais, reta demais. Sabe o que é...É que eu estou cansada de você. Sinto que tem algo de estranho na nossa rotina. Me pego frequentemente querendo fugir, planejando viagens, tentando sair do DF por qualquer motivo que seja.

Tô cansada.
Cansada desse clima desértico, que faz um calor triste ao meio dia e uma chuva torrencial à noite. Ou o oposto, sem avisar a ninguém.
Cansada dessa cultura fria, que não se cumprimenta, não puxa papo com pessoas fora da bolha social em que estão.
De lugares que são sempre a mesma coisa, mesmo mudando.
De modinhas que nunca são originais.
Da falta de descobertas, algo interessante, que exale cultura.
Da má reputação por culpa de poucos.
Do que fazer numa terça a noite [...]

Faz tempo que eu estava pensando nisso, está chegando a hora de te largar. Não fique preocupada, serei muito grata, Brasília, do fundo do meu coração.

Não quero ser extremista. Não vou cuspir no prato de Niemeyer. Acho que você é o melhor berço que uma criança pode ter. Foi uma linda infância, admito. Brinquei muito de esconde-esconde de baixo do prédio. E uma adolescência bem vivida no Candanguinho CECAN e nas matinês sub-17 (lembra da Macadâmia?).
Agradeço por não me decepcionar em termos de segurança. Nunca aconteceu comigo nada mais grave que furto de celular em show de axé (mas aí eu mereci, admito).
Obrigada pelo céu. Já rodei alguns países mas nada se compara com o degradê azul/rosa/vermelho do céu às 18h.
Obrigada pela organização, pelo trânsito (quase) tranquilo, pela facilidade de circulação (principalmente para pessoas  lesadas e perdidas, como eu).

Obrigada por tudo, Brasólia. Mas nossa relação já está desgastada faz tempo. Conheci outras mais interessantes que você. Pretendo partir para não voltar.

Não fique triste, capital. Você é uma estrela que brilha brilha. Há outros 2.562.962 habitantes que podem me substituir. Com certeza o trânsito vai ficar mais seguro assim que eu for embora e haverá uma vaga a mais nos estacionamentos lotados da UnB...

Espero ver a Copa de 2014, apontar para a TV e encher o peito de orgulho: ''Look, guys! That's my city in Brazil!''

É isso.
Adeus, 

PS: Infelizmente não estou me mudando agora. Mas seria exatamente isso que eu diria se pudesse me mudar hoje, depois do almoço.

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